No dia 21 de setembro de 2023, realizou-se uma atividade de integração e desenvolvimento curricular, visando prestar um bom acolhimento aos novos alunos da ESEL. Neste dia a Masterclass foi proferida pelo professor José Brás, tendo por título a Educação como Utopia.
Partindo da ideia de que o homem não nasce homem e dado o seu estado de imperfeição, a utopia convida-nos a inquirir o que temos por desejável. Utopia é esse lugar que não existe, mas que precisamos para nos inspirarmos à procura de um mundo melhor. Thomas More foi o criador, em 1516, desse neologismo e serviu para traduzir este não lugar que é determinado pela potencialidade da nossa imaginação. Neste sentido, a Utopia serve de energia para apanharmos o caminho da esperança, sem o qual não é possível trabalhar na educação. Precisamos de otimismo para continuarmos a procurar o aperfeiçoamento contínuo para a humanitas. Na educação, encontramos esta preocupação em Pedagogia da Utopia de Peter Mclaren, em Ética, Utopia e Educação, de Paulo Freire, em Não é Possível fazer Educação sem Utopia, de Arthur Fonseca e Filho, entre muitos outros.
Nesta sequência foi também discutido a ideia de Eutopia, como crítica à conceção idealista da utopia. Por contraposição abordou-se igualmente à ideia de Distopia, como crítica à sociedade atual. São conhecidas as obras clássicas como 1984, de Orwell, o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, que fazem este exercício crítico necessário à sociedade. A educação precisa desta análise crítica, sem a qual o mundo melhor não tem sentido. Mas, também na educação precisamos de estar atentos às novas Distopias, assinaladas por Ivan Illich, Neuromancer de William Gibson, O Conto da Aia da Margaret Atwood, Voxm de Christina Dalcher, entre outros.
Por último abordou-se a Retrotopia, bem assinalada por Zygmunt Bauman. Esta ideia de retorno ao passado, surge do desencanto da modernidade e reflete-se em vários domínios da vida cultural. Não é um fenómeno específico da educação. Igualmente na música, assistimos ao movimento Vaporwave que traz também a fascinação nostálgica pela estética mais antiga. Na educação, o medo que temos do futuro, principalmente com a suspeita e receio da substituição do trabalho humano por máquinas, leva a que muitos apostem num regresso a um passado mitificado. Na realidade, a Retrotopia está aliada à Utopia. Ambas idealizam um futuro melhor, com a diferença que uma aposta no futuro e a outra aposta no passado. Esta análise e discussão é deveras interessante para todos os que refletem sobre a educação, para nos aproximarmos do inédito viável de que nos fala Paulo Freire. Foi convidando os alunos com este tipo de reflexão que quisemos brindar o acolhimento dos novos alunos e o arranque do ano letivo que agora se inicia.